quarta-feira, 25 de maio de 2011

Teoria da Conspiração

Há um problema com as coisas: coisas não desaparecem. Não são coisas com vida própria. Quando as coisas têm vida própria deixam de ser coisas. Comida é coisa. Mas coisas não importam, até porque desapareceu o almoço de alguém. E alguém tem vida própria, alguém come, alguém mexe. Comida não mexe, comida não foge, não se come uma à outra. . Desaparece o almoço da que vai trabalhar, culpa-se o insaciável esfomeado que chegou do trabalho, mas nunca ninguém se acusa, não há provas e ninguém sofreu uma indegestão. Vá lá, podes admitir que foste tu. Mas não fui eu, aposto que foi ela, estava a rir-se. Não, não fui! Então só podes ter sido tu! Nunca faria isso, sabia que era o almoço dela! Então foi ela :O Ah sim? Então e porque haveria ela de comer o próprio almoço e nos acordar às 6h da manhã dobrada em insultos porque não ia ter almoço? Claro que não, que estupidez. Pode ter sido o cão. Mas o cão está preso. (...) Procura-se almoço de uma pobre operária. Passam-se semanas, e nem vestígios. Se ao menos tivesses feito uma costoleta, teriam aparecido ossos. Facto é que são estas mesquinhices, estas aspirações a acontecimentos que nos ficam na memória a longo prazo. Porque quando a comida tem ossos, e nós não temos cão, eles estão algures.