quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Seja a merda a fonte da arte

Pode ser dos sonhos,
Que alimentam o incerto
Ou dos devaneios
Que desfazem o concreto
Para alguns é da loucura,
Para outros tantos da amargura
Revoltados ou moribundos
Pescadores, defuntos
Felizes , poucos
HOMENS, muitos

Um pão faz-se tarte
Do medo nascem telas,
Da merda, ARTE

Nos peitoris das janelas
Nos tascos ao balcão
Será o pior dos dias
A maior fonte de criação ?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ficaram coisas por dizer, coisas por não dizer.. Mas tu sabes, não sabes? Sabes, pois. Se acreditaste eu também acredito, porque acredito naquela tua paz, naquelas tuas palavras, nas bolachas da tua lata, no barulhinho singular do teu rir, na tua família: Deixaste-me o maior legado de todos.
Ainda não me habituei ao teu não-estar, já muita água correu debaixo da ponte e entre as minhas pestanas, e mesmo assim faltas-me, levaste um bocadinho de mim, e eu fiquei com aquele vazio que até então só tinha ouvido falar nas novelas e julgava uma farsa como tudo o resto. Estava enganada.
Gostava que estivesses por perto, a preocupar-te com a hora da missa e com a comida sem sal, ali, na tua casa onde comíamos as castanhas , o bolo-rei e tudo o resto. Estamos todos crescidos, e ainda ninguém aprendeu a não ter-te.. acho que nunca vão aprender.
Há dias em que não estares por perto faz toda a diferença e cresce o fenómeno da união por estas bandas, é uma coisa boa, como se estivessemos todos do mesmo lado do jogo a , mas tu não estás lá, e então descobrimos o consolo no apoio mútuo e incondicional dos que ficaram e em quem mal tínhamos reparado. Temos saudades tuas,

Não te peço que voltes, antes que nunca vás.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

não sei bem o quê

Era de prever o orvalho, os arrepios de um frio cortante ao crepúsculo varrem-me as ideias e tomam de mim tudo aquilo que julgava ser meu, por natureza ou hábito, tudo o que parecia intocável, dado adquirido, foi-se. Despiram-me do que me definia e deixaram-me a nudez bruta de animal ao relento, gelada em tempo e espaço, ausente de mim própria, sem justa causa.
E é sem explicações.. sem mecanismos racionais, que procuro não sei bem o quê, não sei bem onde nem quando, para me vestir, para me fazer. E depois? Esperar que venha o mundo e me leve tudo outra vez? Não, não é o que quero.
Nasce assim, a partir da negação, aquilo que esperava encontrar numa esquina duma rua fedorenta ou num campo de trigo, e que acabei por construir e agora tenho por certo ser meu, veio de mim. Não é nada que alguma coisa me possa levar porque não há nada que tire o que me faz Eu.