quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Cruzamentos
Chamada 2# Senhora apática atende, diz que o nome é Carlos, e que o Carlos só volta na próxima semana, porque trabalha noutro lugar.
Google - número de telefone do lugar
Existem dois lugares, o I e o II
Tento no II, porque sim.
Chamada 3# Senhora aborrecida atende, diz que não sabe quem raio é o Carlos
O Carlos deve trabalhar no I
Chamada 4# Senhora da PT atende, diz que o número de telefone foi alterado, fornece o actual
Chamada 5# Senhora brasileira extremamenteocupada atende, diz que isso não é com ela, reencaminha.
Vinte minutos em voz alta de " te .. te..te..te" fodasse.
Espero dez minutos. Volto a ligar
Chamada 6# Senhora brasileira aficarchateada atende, decide que o melhor é lidar comigo, "quem você procura?" "Carlos" "Vou reencaminhar"
Chamada 7# Senhora feliz atende, conhece perfeitamente o Carlos, até me diz o sobrenome, de que me esqueci imediatamente a seguir. Vai passar a chamada
Chamada 8# Carlos atende. "Daqui fala a Inês, do Henry Miller." "Inês! Como é que me encontraste? Estás bem?" "Sim, já estou bem. Era só para agradecer. Só para agradecer. Agradecer o crédito, e aproveitar para pedir que leve sempre a sério o outro como me levou a mim, mesmo que, sob determinadas circunstâncias, isso implique mentir, porque secalhar o uniforme lhe dá legitimidade para isso."
"Inês, eu não te menti"
Merda. Era muito mais fácil se tivesse..!
Fiquei calada, porque não sabia o que responder. Pensei os tópicos da linha de conversa. Ia ser um monólogo, não lhe queria dar a hipótese de falar com medo de perceber que de facto ele me havia mentido, no fundo sabia que me tinha mentido, para impedir que me afundasse ali, por isso queria ficar na ignorância. Mas ele não mentiu. Disse que nunca mentia. Acho que me achou ali perturbada. "Queres o meu número, caso precises de alguma coisa?" "Não, não quero. Era só para dizer Obrigada"
Barulho de fundo, haviam mais pessoas no Mundo a precisar que alguém lhes dissesse que a vida pode ser como nós queremos que seja. Pouco mais se disse, o essencial ficou, desliguei com a sensação de missão cumprida. É bom não ter filtro, tão bom..Sabe tão bem pensar as pessoas, querer com vontade que elas saibam o quão boas são e agradecer-lhes por isso. Mas depois foram só dúvidas..só dúvidas..
Um perfeito estranho, um adulto responsável, com filhos, com um trabalho, com mais que fazeres, ajudou-me com uma conversa, que eu comecei porque sim, a atirar umas postas, porque posso fazer o que me apetece. Mais do que isso, ele levou-me a sério, e depois eu também o levei a sério, questionando tudo o que ele dizia, a sorrir com a simpatia de uma pessoa que se dispõe a refutar-me como se me tentasse salvar de um abismo. "Calma, meu. Não precisas de me mentir, eu sei a verdade" foi o que eu pensei, e que não disse por me saber tão bem a mentira naquele momento.
Por isso é que agradeci, pela disposição, por tudo..Por tudo, menos pela verdade, por achar que era mentira. Afinal é a verdade dele, eu acredito que seja, porque me ajudou, porque não teria motivo para me mentir numa segunda ronda. Na volta, tentei contactar o Carlos porque queria saber. No fundo queria saber se era verdade ou não tudo o que me disse por corresponder ao que eu queria ouvir. E era mesmo
Mandar postas vai ser o meu lema de vida.
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
quinta-feira, 28 de junho de 2012
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Such is life
Não há motivo para guardar a maioria das coisas que guardo. Mas, quer dizer, também não existe motivo para as não guardar. Do nada, surgiu um: NÃO CABEM MAIS COISAS. Chegou altura de interiorizar um mecanismo de filtragem, há coisas que se podem fazer/dizer/guardar, outras que não.
E tem de ser, porque tem de ser, porque deve ser. Porque se não, não se chega lá. Perder duas, guardar uma: opções são inevitáveis.
Mas se nenhuma daquelas coisas tem utilidade, que critérios de filtragem é que é suposto uma pessoa adoptar. São todas feias, todas inúteis, todas antigas, todas outsiders, todas 'coisas'.
Arranjar mais gavetas! é isso, arranjar mais gavetas. E nunca aceitar que não poderão haver mais gavetas porque não haverá espaço para gavetas: Fazem-se gavetas, fazem-se espaços para as gavetas. Lá está, dedução primária.
Afinal isto não foi difícil.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Tudo isto é perigoso
Nunca tive problemas, já tive coisas, aspirações a entraves, situações desagradáveis, espinhos incómodos, depois há os dilemas, e não são poucos, mas tudo isto junto não chega a ser problema, porque no fim o nó se desfaz, nada é permanente. Só que agora, uma vez que não se brinca, uma vez que não é chocolate ou morango, grande ou pequeno, calças ou vestido, estou um tanto ao quanto engasgada. Isto é o grande cruzamento. Vale que ainda não tenho de encontrar o meu lugar e o meu fado é rascunho em constante remodelação, coisa que me dá certa margem de manobra, porque a estrada é infinitamente rica em alternativas de rota. Such is life
sexta-feira, 3 de junho de 2011
semi espetacular
Sem tentar provar
Que padeço de alguma espécie
de mal singular
Ou que sou mais gente
se me estiver a lixar
É que este só estar
Este cómodo e não mais suportável estar
me consome e já não só enfada
Como me desliga de manhã
E, por isso, me encontro embalsamada
Culpa dos dias não será
Antes da minha fragilizada
capacidade para ficar exaltada
e me impôr, assim, do nada
E agora, isto vai acabar
porque o meu horizonte
vai mudar,
ó se vai.
desinocas
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Teoria da Conspiração
Há um problema com as coisas: coisas não desaparecem. Não são coisas com vida própria. Quando as coisas têm vida própria deixam de ser coisas. Comida é coisa. Mas coisas não importam, até porque desapareceu o almoço de alguém. E alguém tem vida própria, alguém come, alguém mexe. Comida não mexe, comida não foge, não se come uma à outra. . Desaparece o almoço da que vai trabalhar, culpa-se o insaciável esfomeado que chegou do trabalho, mas nunca ninguém se acusa, não há provas e ninguém sofreu uma indegestão. Vá lá, podes admitir que foste tu. Mas não fui eu, aposto que foi ela, estava a rir-se. Não, não fui! Então só podes ter sido tu! Nunca faria isso, sabia que era o almoço dela! Então foi ela :O Ah sim? Então e porque haveria ela de comer o próprio almoço e nos acordar às 6h da manhã dobrada em insultos porque não ia ter almoço? Claro que não, que estupidez. Pode ter sido o cão. Mas o cão está preso. (...) Procura-se almoço de uma pobre operária. Passam-se semanas, e nem vestígios. Se ao menos tivesses feito uma costoleta, teriam aparecido ossos. Facto é que são estas mesquinhices, estas aspirações a acontecimentos que nos ficam na memória a longo prazo. Porque quando a comida tem ossos, e nós não temos cão, eles estão algures.