segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Para o ano há mais

Antes não cabíamos todos: era apertado à mesa, era apertado na cozinha e no sofá eram todos ao molho, especados em frente à televisão à espera de ouvir " Welcome to Gateway, Leone..we've been waiting for you" . Mal conseguia acompanhar as legendas e tapava os olhos quando o Stallone tava a levar porrada, mas adorava aquilo, e adorava quando nós víamos e revíamos aquela cassete, porque era a nossa tradição.
Muitas coisas mudaram, as pessoas mudaram, o bolo rei mudou, o VHS foi-se. Vale o espírito natalício dos persistentes que vêm aquecer as mãos na mesma fogueira, que mudou de residência. Tudo mudou porque crescemos, porque o pilar se foi, porque se inventam desculpas encima da verdade crua. Mas ainda bem que nunca deixa de ser Natal e que nós nunca deixamos de ser uma família nem de tirar os frutos cristalizados do bolo rei. São dias de intensa actividade do pouco fazer, engordar um tanto, jogar umas cartas, um scrabble, tomar um café, aquecer os pés, contar umas piadas e voltar a comer. Têm-se assim umas conversas baratas que fazem rir o bacalhau, e comer outra vez. E o ponto alto até nem são os presentes, é depois fazer o sorteio umas 5 vezes (nestas coisas há sempre falhas) e a meio do ano se perderem os papeizinhos. É esse o espírito! Ver toda a gente com as bochechas vermelhas de calor quando lá fora faz frio, fazer uma batota de segunda, falar alto para a outra ponta da mesa, dar um abraço aqui e ali.
Volta e meia é Natal num fim de tarde quente de Verão ou num Domingo pachorrento em que nos encontramos por uma feliz coincidência e nos apercebemos que, afinal, o que importa nunca chegou a mudar.

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