quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
hipoteticamente falando
O amor é bem capaz de ser um meio de evasão que serve como desculpa para alguém se poder ridicularizar de quando em vez. Vi num filme que o amor não passa de uma "invenção capitalista feita por floristas gananciosos". São tantas as metáforas, tantas as comparações, tantos o "amor não se explica" que às vezes me ocorre que o amor é capaz de nem existir, ou é alta a probabilidade de ser mesmo uma invenção - e coisas dessas inventadas, nem sempre são fiáveis. Li que é errado pensar-se que a felicidade se encontra essencialmente nas relações entre pessoas, que a felicidade, ou a sua busca (já que também tem a sua quota parte de ilusão) encontra-se em tudo aquilo que nos rodeia, que é vivo, em que se tem fé. E muito boa gente lá tem fé no amor e até se diz feliz. Mas ele é tão banalizado, tão dado adquirido que chega a cheirar mal. Acredito, talvez, no amor fraterno, no apoio único e incondicional de um pai e uma mãe, os únicos que ainda me fazem acreditar que vai mesmo ficar tudo bem. De resto, são eles que moldam o meu valor, e apesar de não negar a minha descrença, aceito o facto de um dia o amor poder vir a acontecer comigo, só que o meu 'amor' pela vida e tudo o que isso implica vai ser sempre maior. Vai ser sempre maior a vontade de ser fiel, antes de tudo, a mim, e quem sabe um dia recolha ao meu canto, calejada, e seja feliz com o que conquistei.
sábado, 22 de janeiro de 2011
Outra vez não
Não sei definir o que vai cá dentro. Lá fora parece tudo protocolo, sistemático, um levantar e voltar a cair frio e cruel, um golpe baixo e sujo e uma impotência asfixiante. Da primeira vez não doeu, mas ficaram marcas a longo prazo que me fazem sentir saudade do que não conheci, depois foi diferente, houve todo um processo de pré-conformismo que me deixou incoformada até ao dia em que aconteceu. Ainda não consegui entender como quiseram conviver com um facto sem ele ter ainda acontecido e quando, depois de tanta previsibilidade, realmente aconteceu, ninguém estava preparado e o chão fugiu-nos a todos. Falo da morte, sim, dessa besta insaciável à qual um dia gostava de ter a felicidade de ceder com o cabelo bem branco e um suspiro zen. Mas as coisas nem sempre são como idealizamos, e se os filhos não fazem a vontade aos pais porque raio vai a morte fazer-me a mim? Não somos donos de nada, nem da própria vida, e nunca há momentos oportunos para este 'tipo de coisa' acontecer. Não estou , nem quero estar, em fase de pré-conformismo, de aceitação.. por momentos achei-me fria e ausente, mas não, isto sou eu a querer que alguém viva, o que não é, propriamente, contra-natura. Já me tinha esquecido de como é ver o sofrimento por antecipação, amargo, enquanto eu me seguro a não sei o quê que me faz o choro leve e silencioso. O que vai cá dentro é uma esperança paciente e despida de ansiedade, à espera que voltes e me faças batatas fritas ensopadas em óleo ou assado no Domingo.
domingo, 9 de janeiro de 2011
(in)diferença
Não sei a quantas ando
Enquanto isso,
A vida vai mudando
Dois passos à minha frente
A levar a minha gente
E a trilhar o meu caos
Não sei os porquês
Mas estou bem com a mudez
Do mundo em bruto,
Pleno absoluto
Sei que demasiada impotência
Com tão pouca resignação
É um insulto à inteligência
De quem luta pela explicação
Mas sei também
Que às vezes chove no Verão
Que se chora, sem razão
E que ninguém
Passou por mim em vão
Enquanto isso,
A vida vai mudando
Dois passos à minha frente
A levar a minha gente
E a trilhar o meu caos
Não sei os porquês
Mas estou bem com a mudez
Do mundo em bruto,
Pleno absoluto
Sei que demasiada impotência
Com tão pouca resignação
É um insulto à inteligência
De quem luta pela explicação
Mas sei também
Que às vezes chove no Verão
Que se chora, sem razão
E que ninguém
Passou por mim em vão
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Para o ano há mais
Antes não cabíamos todos: era apertado à mesa, era apertado na cozinha e no sofá eram todos ao molho, especados em frente à televisão à espera de ouvir " Welcome to Gateway, Leone..we've been waiting for you" . Mal conseguia acompanhar as legendas e tapava os olhos quando o Stallone tava a levar porrada, mas adorava aquilo, e adorava quando nós víamos e revíamos aquela cassete, porque era a nossa tradição.
Muitas coisas mudaram, as pessoas mudaram, o bolo rei mudou, o VHS foi-se. Vale o espírito natalício dos persistentes que vêm aquecer as mãos na mesma fogueira, que mudou de residência. Tudo mudou porque crescemos, porque o pilar se foi, porque se inventam desculpas encima da verdade crua. Mas ainda bem que nunca deixa de ser Natal e que nós nunca deixamos de ser uma família nem de tirar os frutos cristalizados do bolo rei. São dias de intensa actividade do pouco fazer, engordar um tanto, jogar umas cartas, um scrabble, tomar um café, aquecer os pés, contar umas piadas e voltar a comer. Têm-se assim umas conversas baratas que fazem rir o bacalhau, e comer outra vez. E o ponto alto até nem são os presentes, é depois fazer o sorteio umas 5 vezes (nestas coisas há sempre falhas) e a meio do ano se perderem os papeizinhos. É esse o espírito! Ver toda a gente com as bochechas vermelhas de calor quando lá fora faz frio, fazer uma batota de segunda, falar alto para a outra ponta da mesa, dar um abraço aqui e ali.
Volta e meia é Natal num fim de tarde quente de Verão ou num Domingo pachorrento em que nos encontramos por uma feliz coincidência e nos apercebemos que, afinal, o que importa nunca chegou a mudar.
Muitas coisas mudaram, as pessoas mudaram, o bolo rei mudou, o VHS foi-se. Vale o espírito natalício dos persistentes que vêm aquecer as mãos na mesma fogueira, que mudou de residência. Tudo mudou porque crescemos, porque o pilar se foi, porque se inventam desculpas encima da verdade crua. Mas ainda bem que nunca deixa de ser Natal e que nós nunca deixamos de ser uma família nem de tirar os frutos cristalizados do bolo rei. São dias de intensa actividade do pouco fazer, engordar um tanto, jogar umas cartas, um scrabble, tomar um café, aquecer os pés, contar umas piadas e voltar a comer. Têm-se assim umas conversas baratas que fazem rir o bacalhau, e comer outra vez. E o ponto alto até nem são os presentes, é depois fazer o sorteio umas 5 vezes (nestas coisas há sempre falhas) e a meio do ano se perderem os papeizinhos. É esse o espírito! Ver toda a gente com as bochechas vermelhas de calor quando lá fora faz frio, fazer uma batota de segunda, falar alto para a outra ponta da mesa, dar um abraço aqui e ali.
Volta e meia é Natal num fim de tarde quente de Verão ou num Domingo pachorrento em que nos encontramos por uma feliz coincidência e nos apercebemos que, afinal, o que importa nunca chegou a mudar.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Concisão
O problema com a felicidade é que as pessoas se acomodam, a coisa banaliza-se, e , consequentemente, é desvalorizada e deixa de ser felicidade. Por isso é que é efémera. Por isso é que o Mick Jagger diz "you can't always get what you want, but if you try sometimes, you might find that you get what you need" É um mundo de gente insatisfeita. A verdade é que quando somos fiéis a nós, sabemos que somos felizes...quando escolhemos um caminho sem o repensar e acabamos por nos surpreender. Quando se atira a moeda ao ar e as coisas não saem ao acaso porque há sempre desculpas- 'ah, bateu ali no canto'- para atirar de novo ou porque, convenhamos, o dinheiro não é de confiança. Mas nós somos. E no final das contas , sabemos exactamente o que queremos.
Sabe tão bem fazer as escolhas acertadas, para variar.
Qual destino, qual quê...podemos fazer inversão de marcha com uma pinta: Para onde ir não vem ao caso, vem ao caso rir sem motivo aparente, correr descalço, e, de quando em vez, sermos atingidos pela mania de criança de achar que tudo tem vida própria. Há que falar com paredes e que dormir no chão. Há que fugir. Há que sentir amor próprio a coçar o egoísmo.
Posso não estar a ser concreta, mas manifesto-me à margem de um mundo podre sob hipnose que jamais vai escutar os meus devaneios e erguer-se perante todos os mecanismos racionais que envolvem o ridículo da sua própria existência.
E a isso eu digo: fo#&-§€
Sabe tão bem fazer as escolhas acertadas, para variar.
Qual destino, qual quê...podemos fazer inversão de marcha com uma pinta: Para onde ir não vem ao caso, vem ao caso rir sem motivo aparente, correr descalço, e, de quando em vez, sermos atingidos pela mania de criança de achar que tudo tem vida própria. Há que falar com paredes e que dormir no chão. Há que fugir. Há que sentir amor próprio a coçar o egoísmo.
Posso não estar a ser concreta, mas manifesto-me à margem de um mundo podre sob hipnose que jamais vai escutar os meus devaneios e erguer-se perante todos os mecanismos racionais que envolvem o ridículo da sua própria existência.
E a isso eu digo: fo#&-§€
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Encarando
Hoje puxaram o tapete
Debaixo dos meus pés
E não tenho ao que me agarrar
Até o (que eu achava ser) certo
Acabaram por me tirar
O próximo passo nem é importante
Quando nem há a quem culpar
Nem ao destino, figurante
Ou a uma transcendência elementar
E as lágrimas, nem sei de que fonte
Anseiam por jorrar
Acho que me levaram tudo
e nem me deixaram o chorar.
..Então vá, ..vamos todos, em massa, render-nos à evidência, ao fatalismo febril.
Tive uma epifania: somos pequenos ratos, brancos ou cinzentos, uns pretos outros ratazanas, que caminham bem encima de um rastilho que, pra dramatizar a coisa, está suspenso no ar. Quando nascemos alguém acende o lume na pontinha: não podemos voltar atrás e somos empurrados vá-se lá saber pelo quê, cobardia ou coragem, para no fim, BANG!
Há dias ocos, assim.
Debaixo dos meus pés
E não tenho ao que me agarrar
Até o (que eu achava ser) certo
Acabaram por me tirar
O próximo passo nem é importante
Quando nem há a quem culpar
Nem ao destino, figurante
Ou a uma transcendência elementar
E as lágrimas, nem sei de que fonte
Anseiam por jorrar
Acho que me levaram tudo
e nem me deixaram o chorar.
..Então vá, ..vamos todos, em massa, render-nos à evidência, ao fatalismo febril.
Tive uma epifania: somos pequenos ratos, brancos ou cinzentos, uns pretos outros ratazanas, que caminham bem encima de um rastilho que, pra dramatizar a coisa, está suspenso no ar. Quando nascemos alguém acende o lume na pontinha: não podemos voltar atrás e somos empurrados vá-se lá saber pelo quê, cobardia ou coragem, para no fim, BANG!
É claro que se aparecesse o Indiana Jones o caso mudava de figura, mas não, o Harrison Ford também é um rato, e sem chicote.
Há dias ocos, assim.
domingo, 31 de outubro de 2010
De nada vale o suor,
Nem o pó e o mofo,
Se não te sabes a ti
Nem te conheces o estofo
E como bússola desorientada
Segues os passos da manada
És arrastado nas teias
E deixam-te a alma abafada
Pelas coordenadas alheias
De gente mal direcionada
Não te percas sem razões,
Constrói atalhos e horizontes
Sem te esqueceres das pontes
Faz-te TU, sem intervenções
Fica atento aos empurrões
Fiel ao teu instinto
Ou nunca chegas a saber,
ao ficares fora do labirinto
Se te irias lá perder.
Nem o pó e o mofo,
Se não te sabes a ti
Nem te conheces o estofo
E como bússola desorientada
Segues os passos da manada
És arrastado nas teias
E deixam-te a alma abafada
Pelas coordenadas alheias
De gente mal direcionada
Não te percas sem razões,
Constrói atalhos e horizontes
Sem te esqueceres das pontes
Faz-te TU, sem intervenções
Fica atento aos empurrões
Fiel ao teu instinto
Ou nunca chegas a saber,
ao ficares fora do labirinto
Se te irias lá perder.
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